Espero que gostes Patti...

Aceitando um desafio da vizinha vou "tentar" deixar o meu contributo, tarefa difícil, mas vamos ver o que sai...

(ela começou..)

Congelo sempre mirtilos no inverno. Só assim posso utilizá-los durante todo o ano em marmelada, sumos e bolos. Quando eu era criança, o meu avô contou-me numa das suas muito fantasiosas histórias, que existia um reino de princesas do gelo, exímias amazonas e caçadoras nocturnas, com uma visão apuradíssima, devido aos vinhos tingidos com mirtilo.

Caçavam pirilampos incandescentes, pó incendiado e desperdiçado nas caudas das estrelas cadentes e velas voadoras, para iluminarem o seu reino nos Invernos sombrios das montanhas onde vivam.

Um dia, encontraram um mirtilo descolorado. Muito infeliz e sozinho, esmagado numa bola de neve. Olharam para ele com espanto e...

(aqui entro eu)

...ao vê-lo assim tão frágil, já quase sem vida mas mesmo assim, ainda lutando com todas as forças que lhe restavam para sobreviver a todo aquele gelo, que lhe envolvia o frágil corpo, como se fosse um manto transparentemente belo.Não poderam deixar de admirar toda a sua beleza ainda intacta, conservada pelo gelo.
Parecia adormecido, talvez sonhando com o dia em que iria acordar e sentir de novo o calor do Sol de Inverno que o costumava aquecer em manhãs repletas de luz, aquela luz que ilumina os bosques mais sombrios, por onde se passeiam lindas Fadas que não são nem mais nem menos que as Princesas do Gelo, mas isso ele não sabia...

Foi então que sentiu um toque, leve e suave como uma pluma, alguém lhe pegou com todo o cuidado, naquele momento sentiu-se protegido, já não estava só e abandonado.

Estava cansado, tão cansado que se deixou embalar por aquelas mãos que o protegiam e deixou-se dormir...

Que vamos fazer com ele? Perguntaram umas ás outras.

Estavam habituadas a colher os mirtilos, frescos, viçosos e muito coloridos, para deles extrair a cor que dava um toque especial aos seus vinhos. Ficaram por momentos sem saber o que fazer,

-Um mirtilo assim tão pálido não deve servir de muito, disse a princesa mais velha, vamos deixa-lo onde está pois não nos serve de nada, ainda nos põe mau sabor no vinho.

Mas a Floquinho, que era a mais nova de todas e cá pra nós a mais graciosa também, sempre com lindos vestidos feitos com os mais belos pingentes gelados, não concordou, já tinha pensado em dar-lhe outro final, bem mais feliz, sem ser o abandono.

Pegou nele com cuidado, e levou-o consigo...

O pobre mirtilo quando acordou, não sabia muito bem quanto tempo tinha passado naquele sono profundo em que se deixara cair, sentiu de novo calor, não era o calor do Sol, não, era um calor diferente, era o calor de outros ingredientes, como a farinha os ovos o açúcar...que se misturavam com ele , e aos quais ele dava uma leve cor, a sua cor...

Ficou contente, pelo menos fez alguém feliz, porque foi assim que a Floquinho ficou, ao ver o resultado da sua experiência. Tinha deixado o pobre coitado, que parecia já não valer nada, a dormir o seu sono gelado durante todo o Inverno, e só o acordou na Primavera para o usar numa receita de bolo inventada por si...e que belo bolo saiu dali ...

Foi assim que se descobriu a maneira de conservar muitas coisas das quais gostamos e que nem sempre a Natureza nos dá....o frio nem sempre mata, também ajuda a conservar.

Não tenho o mesmo jeito que ela para inventar histórias, gostava mas não tenho...mas aceitei o desafio, está cumprido

Bom fim de semana